quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Viúva Negra

Cristina matou o companheiro de aventuras.
Ao fim de quase um ano de desespero, Cristina deu-lhe trinta e cinco facadas no coração, tantas quantos os anos da sua existência.
Cristina nunca soube o que era amar, teve vários companheiros e quando encontrou o homem que julgava ser o único da sua vida, achou que tudo era possível fazer-se, o impossível e o óbvio.
Toda a sua existência sonhou com uma união perfeita, com os seus altos e baixos, decerto, mas os sonhos desfizeram-se quando a violência chegou aos filhos em comum e à sua integridade.
Deixou de acreditar em sonhos, deixou de acreditar que a felicidade era possivel, deixou de ser ela própria,
Conquistou a pulso a sua independência, estudou, aplicou na sua vida o que aprendeu para depois ser totalmente destruída por um cilindro manipulador.
Ainda hoje chora pelo seu impulso, mas não consegue desligar-se das situações que absorvem o seu pensamento.
Cristina não conseguiu suportar o campo de batalha sentimental a que se sujeitou, às traições, ao desrespeito, as noites alcoólicas, a falta de apoio, as depressões, a falta de liberdade.
Ainda hoje se veste de negro, como se quisesse colmatar essa falha que acha no seu interior, um autêntico delirio. Nunca irá voltar a ser ela, depois de ter sido subjugada aos prazeres perversos de António, às noites em que ficava sozinha a cuidar dos filhos enquanto ele se desdobrava em prazeres fora da sua vista, viveu uma união de conveniência por parte dele, mas apercebeu-se a tempo e vingou-se. António nunca mais lhe fará mal.
António foi a sua morte. António será o seu renascer.


Acredito que existem pessoas que vivem autênticos infernos, tanto físicos como psicológicos. Precisam libertar-se a elas próprias. Identifiquei-me em parte com este testemunho que tive a oportunidade de ouvir e de sentir enquanto me encontrei em clausura interior longe da civilização. As lágrimas correram-lhe pela face enquanto descreveu todo o seu desespero, toda a sua angústia. Cristina foi absolvida pelo tribunal do seu "crime", mas não se perdoa a ela própria! Continua em tratamento!

Acredito que hoje em dia, o amor verdadeiro existe só em algumas pessoas que tentam ter uma mente  sadia. O amor, a velha questão, o sentimento "fugaz" em que tudo pode ser posto em causa.
Não estou a falar em possessão, mas sim em respeito mútuo, a mim sempre me fez muita confusão o facto de haver casais que no alto da sua união, permitissem que um deles saltasse a corda. Vem-me à cabeça o velho ditado: " Coração que não vê, coração que não sente" Pois bem, faz todo o sentido, não tem a ver com moral, tem a haver com educação e com respeito, sem ele não existe liberdade.

As uniões de conveniência ou as chamadas "relações abertas" matam o sentimento que une ambos os intervenientes. A não ser que os mesmos se sintam bem com essa condição. De qualquer forma, na minha opinião, é porque existe algo que falha, atracções fisicas toda a gente tem, mas passarem ao acto, deixa de ser legitimo, deixa de ser um amor genuíno. Nesse caso, a meu ver, acho que o melhor é ficarem sozinhos, assim não se magoam a eles próprios! Válido para todo o tipo de pessoas, independentemente da sua opção sexual, porque o que interessa é o que se sente. Quando se ama, ama-se! Não quer dizer que não aconteça, comigo já aconteceu, mas senti-me mal com isso. A carne é fraca, mas o espírito consegue ser mais forte quando se tem um corpo limpo! Existem muitas formas de amar, o problema reside apenas na maneira como o concebemos na nossa cabeça e como o sentimos, o poliamor! Não sou adepta da poligamia, apesar de admitir que todos nós temos fantasias! E não quer dizer que não as concretizemos, simplesmente acho que essas fantasias são apenas lapsos da nossa insatisfação. O Homem é insatisfeito por natureza! Aos poucos vou conquistando o meu amor próprio, aquilo que considero ser benéfico para a minha vida, estava escondido, a minha dignidade, o respeito por mim mesma, apesar de haver sempre quem me tente confrontar. Já houve quem o tentasse destruir, mas aquela réstia de integridade que nunca se perde fez com que a minha natureza viesse ao de cima. O que é inato! Estamos sempre a ser postos á prova! Talvez seja uma sonhadora que acredita em contos de fadas, talvez um dia me apareça uma abóbora azeda que dê para transformar em doce.

Porque o amor é isso mesmo, um doce, uma união em que ambos se querem, em que ambos se respeitam, em que ambos se completam. É o dar e receber, sem querer nada em troca! A unidade do ser! Não somos deuses, somos energias! A energia que nos faz unir uns aos outros, a energia que nos protege, a unidade que nos faz ser livres, independentes, opostos nas nossas diferenças, mas ao mesmo tempo unidos em toda a nossa plenitude, a indestrutível leveza da paixão que corrói as nossas entranhas, a entrega sublime de ambos os corações! E o que é sublime, é divino!










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