sábado, 30 de junho de 2012

Encruzilhada

Não percebo porque tenho as marcas na parede onde se instiga o facto de acreditar que existem universos paralelos e intemporais.

O teatro organiza-se num vão de escada, os subditos desviam o olhar como se de uma doença se tratasse.
Ninguém quer saber a razão pela qual o lixo se acumula nas veredas da Inquisição.

O carrasco assume-se como triunfante, mas na altura ela deixa cair a máscara e o fio da navalha deixou de cortar.

Deixaram os outros de rezar pela ofendida que afinal não cede um milimetro.

Quando chegam os lacaios para levar os restos, eleva-se uma fronteira de fumo e enxofre onde todos se agoniam com o cheiro a morte.

A fogueira acendeu-se mas a carne não arde. Ficam estupefactos ao verem que a madeira cedeu, mas o espirito, não.

Admiram-se de não conseguirem chegar ao topo da macabra vista e o odor fétido prolonga-se pela aldeia.

- Viram?! - gritam as viúvas!

Ao longe, avistam a Morte cheia de dúvidas em levar aquela escória que nem para acendalha serve.
Não arde, não queima, não vive. Não serve.

Estabelece-se um acordo visual entre os presentes e a maléfica sorte. Longe estão eles de perceber a vontade que Daskum tem de se unir á terra.

Nisto, o fogo deixa de arder e a terra treme, um misto de violência inóspita assola o que os rodeia, o cheiro a podre não termina antes de visualizarem um enorme buraco para onde o fogo se muda e se mistura com a essência terrena.

Que poder invencivel os une, mas que os separa.

Não desistem do conflito, descartam a possibilidade de nunca se unirem em prol de um mal menor, avistam-se abutres em torno da enorme cratera que exala fumo negro, os olhos cegam, as vozes deixaram de se ouvir, o único sentimento que se lhes vem á cabeça é a raiva, o unico poder que os move.

Os gritos ouvem-se ao longe, onde se avista uma multidão desesperada de fome. Como cavalos em batalha, destroem tudo o que encontram pela frente, nisto a terra treme de novo, um rodopio de labaredas surge e rodeia-os de modo a que não consigam sair.

Agonia, sofrimento, escárnio eloquente de quem nunca viu mais nada a não ser o desejo de destruir.
São eles os destruídos, os cegos que não conseguiram chegar ao topo de si próprios.

O sangue mancha a vingança frivola que domina o que não se sente, asco, nojo, desordem, caos.

A força não sai em retirada, não se rendem...nunca, rendiçao nunca.

Reina o desprezo não assumido, desvia-se o que se move, mas no fim dependem de si mesmos, não é possivel que se matem porque já se encontram mortos, no entanto vivem em função do que os alimenta. A maquina continua a sua matança.

Pestum retira-se nos seus aposentos, olha pela janela do seu interior e define que só com aquele pensamento fez da sua força a sua fraqueza, outrora como hoje, sabe que a esperança vence sempre desde que consiga voltar a lutar.

Envolvem-se em confronto novamente e desta vez o que os une, separa os fortemente.

Idealizam a ostentação de serem únicos o que os fortalece ainda mais na pertença um do outro, controlam se, dependem do infortunio e é com isso que alimentam o que os faz odiar o que os rodeia.

Abrem tunéis na memoria comum, apegam-se ao destino que os mantem firmes nas suas vidas.

A cratera continua aberta e desta vez o fogo arde em consequência da terra se ter movido novamente no sentido de o fazer deixar imolar se, crescem desejos de poder novamente, os braços fortes lamentam, mas o tronco levanta.

Crescem em direcção ao sol...sentem que se misturam, o cataclismo começa, a destruição é inevitável, o pó é agora vermelho, a arida paisagem avança, o choque de titãs...

Baixaram a guarda, não existe mais nada para combater e nisto o carrasco e a condenada sobrevivem ao perceberam que afinal o tumulto nem sequer era com eles.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

E mais que houvesse!


Putrefacta sensação de obscuratismo hoje me assolou a memória de elefante que tenho!

Olhei me no espelho e consegui finalmente sorrir apenas pra que só eu decifrasse o enigma.

O cinismo, a furia de pegar num martelo e partir o que me dá mais gozo fazer...sofrer! O reflexo da tua existência!

Porcos se almejam dentro da sua propria furda porque no meio de tanta chafurdice nem eles sabem mais o que comer...mas comem...comem porque não sabem procurar mais o que os faz ter fome.
Digo eu, que não sou ninguém...pérolas de diamante...

Grito surdo que se me elevou as fontes, lá fora neste momento, os cães uivam, não sei porquê... ontem o galo cantou era meia noite...estranho!

Fico sem saber se a planta que cheirei me fermentou o poder da sorte ou se o banho de videira fez com que decifrasse a audacia de enfrentar o que não vivo.

Soube me bem voltar á tona da água como se fosse uma sereia numa encruzilhada marinha.

A terra mexeu-se e eu fui a única que senti?

O perfume que exalo é diferente do habitual, o suor parece-me mais fixo.

O fogueira disse que não tinha mais nada para arder, mas as brasas mantêm-se vivas, será que se soprar ao de longe ele vem ao de cima?!

Música para os meus ouvidos, dançariamos a noite toda ao som dos tambores como dois loucos á espera que amanhecessem os teus sonhos! Estremeço de ouvir tocar e apetece-me gritar os anos que passaram em que te conheci, lembraste?! Quando passavas por mim na tua bicicleta sem mãos no guiador?! E quando eu fui contra ti e enleámos as rodas uma na outra?!

Elevou-se-me o bastão da fortuna, mas a carta escolhida foi a morte...morte negra em que o luto demora a tirar, corroi-me a alma de saber que a luz é verde...entrei...e vi...

Foste cedo, nunca te esqueci...

Cascatas de serpentes astutas e perigosas, como eu era...

Ah, como era bom poder dormir num leito de centopeias...contigo...

E mais que houvesse, que eu vencia-as!

Eu vi e senti...ela mordeu-me...deu-me a vida que tu levaste...ainda hoje ando a descobrir a tua matéria...tive alturas em que me quis juntar a ti na mesma gaveta...

E o fogo?! Recordas-te das fogueiras onde queimámos as roupas?


Volta...era só isso que eu queria.

"levantar-me-ia do meu trapeço só para te ver dançar"

E eu dancei...dancei tanto que depois...nos tocámos nas grutas de platina... onde corria a água limpida e cristalina.


Fechámos os olhos...e o cosmos cedeu!

sábado, 23 de junho de 2012

Morte única!



Escrevo porque não tenho nada para dizer, escrevo para sentir o desespero, escrevo para nunca mais voltar atrás no tempo, escrevo porque assim esqueço o que me corroi, escrevo para dizer que nunca disse a palavra que te assola o espirito com tanta vontade como agora, escrevo para dizer que o extremo não me deixa partir do inicio mas sim me faz regressar ao fim! Quando as carpideiras tirarem os véus, não vai restar nada da cova onde te quiseste enterrar. Escrevo porque não me faz sentido! Os magos deliciam-se com o horroroso cheiro a morte que exala do teu corpo! E no fim, temos o que sempre quisemos...

Kaos unificado!




Kaos não existe, mas Anarquia sim! Se os deuses fossem humanos, eu não queria ser nenhum! Se as palavras não fazem sentido, as lágrimas não vão alterar nada! Se a vontade de ser não for suficiente, não existem casos concretos, se a mentira surge onde não tinha razão de ser, nada mais é preciso para que a chuva caia! E quem me dera que chovesse a potes num dia de sol e que o arco iris nunca mais voltasse, quem me dera que a árvore deixasse apodrecer as raízes para que nunca mais vivesse, quem me dera que o cosmo caísse para que eu nunca mais tivesse vontade de olhar as estrelas! Se o mundo fosse quadrado, eu queria ser uma roda para rodar até ao infinito que não tem razão! Sentir que as coisas mudam só porque se quer nem sempre é o suficiente, as cargas de alucinação são maiores do que a ilusão de se querer mudar o que nunca se teve! Amorfos casos de indecisão fazem com que as ideias nunca sejam reais, não tenho razão de ser, não posso ter mais do que não há, a vida vai continuar sem a saga do ópio, sou uma gota que inunda o inóspito mundo irreal que me rodeia, sou louca! Estou louca, louca de desejo de saber que um dia o azeite nunca foi puro e por nunca ter sido puro a sensação de vazio invade o sabor das tuas mãos.
Saber que o único ser que existe não é precioso ao ponto de se dar uma volta sobre a minha cintura, o cheiro do jardim, as flores que eu nunca pensei que nascessem, nasceram.
Existe o mito, existe a forma de saber que afinal os mitos são apenas ilusões dos medos dos humanos. Não quero ser humana, não desejo as flores que afinal nasceram, arranco as aos pedaços do meu íntimo devagar.
Vou rir de vontade de nunca ter tido uma forma de ser que não existe, vou ser uma fórmula química, vou ter uma ideia! Vou ser a ideia! A ideia de conquistar o que está perdido! O ser infinito, o que não há, o que não tenho!
Vou chorar de saber que as pedras que calco quando regresso ao lugar de repouso nunca vão chorar como eu! É mau admitir que se quer, é mau admitir que um dia a casa interior que se construiu era feita de palha, que inflama ao mais surto suspiro, suspiro que envolve as sequências matemáticas que eu nunca soube resolver. Não lamento um único dizer verdadeiro, não lamento saber que o etéreo nunca se tornou real, sonho com artes superiores, sonho com demolidoras investidas que me sugam o sangue de cada vez que me abro para que te escorra por entre os dedos o azul do céu! Como os teus olhos, como a tua voz, como a tua sede de vencer, como a tua fome de querer ser mais, de nunca tentar por um só momento o declínio da insatisfação aterrorizante com que me esforço por demonstrar que existo! Porque eu existo, existo noutro planeta, existo para separar o que é inseparável.
Quando se escreve, realiza-se e eu sou tal como tu, Kaos, irrealizável num plano paralelo do insustentável sentido de amar.