Não percebo porque tenho as marcas na parede onde se instiga o facto de acreditar que existem universos paralelos e intemporais.
O teatro organiza-se num vão de escada, os subditos desviam o olhar como se de uma doença se tratasse.
Ninguém quer saber a razão pela qual o lixo se acumula nas veredas da Inquisição.
O carrasco assume-se como triunfante, mas na altura ela deixa cair a máscara e o fio da navalha deixou de cortar.
Deixaram os outros de rezar pela ofendida que afinal não cede um milimetro.
Quando chegam os lacaios para levar os restos, eleva-se uma fronteira de fumo e enxofre onde todos se agoniam com o cheiro a morte.
A fogueira acendeu-se mas a carne não arde. Ficam estupefactos ao verem que a madeira cedeu, mas o espirito, não.
Admiram-se de não conseguirem chegar ao topo da macabra vista e o odor fétido prolonga-se pela aldeia.
- Viram?! - gritam as viúvas!
Ao longe, avistam a Morte cheia de dúvidas em levar aquela escória que nem para acendalha serve.
Não arde, não queima, não vive. Não serve.
Estabelece-se um acordo visual entre os presentes e a maléfica sorte. Longe estão eles de perceber a vontade que Daskum tem de se unir á terra.
Nisto, o fogo deixa de arder e a terra treme, um misto de violência inóspita assola o que os rodeia, o cheiro a podre não termina antes de visualizarem um enorme buraco para onde o fogo se muda e se mistura com a essência terrena.
Que poder invencivel os une, mas que os separa.
Não desistem do conflito, descartam a possibilidade de nunca se unirem em prol de um mal menor, avistam-se abutres em torno da enorme cratera que exala fumo negro, os olhos cegam, as vozes deixaram de se ouvir, o único sentimento que se lhes vem á cabeça é a raiva, o unico poder que os move.
Os gritos ouvem-se ao longe, onde se avista uma multidão desesperada de fome. Como cavalos em batalha, destroem tudo o que encontram pela frente, nisto a terra treme de novo, um rodopio de labaredas surge e rodeia-os de modo a que não consigam sair.
Agonia, sofrimento, escárnio eloquente de quem nunca viu mais nada a não ser o desejo de destruir.
São eles os destruídos, os cegos que não conseguiram chegar ao topo de si próprios.
O sangue mancha a vingança frivola que domina o que não se sente, asco, nojo, desordem, caos.
A força não sai em retirada, não se rendem...nunca, rendiçao nunca.
Reina o desprezo não assumido, desvia-se o que se move, mas no fim dependem de si mesmos, não é possivel que se matem porque já se encontram mortos, no entanto vivem em função do que os alimenta. A maquina continua a sua matança.
Pestum retira-se nos seus aposentos, olha pela janela do seu interior e define que só com aquele pensamento fez da sua força a sua fraqueza, outrora como hoje, sabe que a esperança vence sempre desde que consiga voltar a lutar.
Envolvem-se em confronto novamente e desta vez o que os une, separa os fortemente.
Idealizam a ostentação de serem únicos o que os fortalece ainda mais na pertença um do outro, controlam se, dependem do infortunio e é com isso que alimentam o que os faz odiar o que os rodeia.
Abrem tunéis na memoria comum, apegam-se ao destino que os mantem firmes nas suas vidas.
A cratera continua aberta e desta vez o fogo arde em consequência da terra se ter movido novamente no sentido de o fazer deixar imolar se, crescem desejos de poder novamente, os braços fortes lamentam, mas o tronco levanta.
Crescem em direcção ao sol...sentem que se misturam, o cataclismo começa, a destruição é inevitável, o pó é agora vermelho, a arida paisagem avança, o choque de titãs...
Baixaram a guarda, não existe mais nada para combater e nisto o carrasco e a condenada sobrevivem ao perceberam que afinal o tumulto nem sequer era com eles.
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