terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

A senhora do mar!

Naquela floresta, vivia uma senhora muito velha, um pouco rude com os estranhos, que usava uma tesoura presa á cintura, dizia que cortava as maleitas do corpo e irritava profundamente os outros habitantes da aldeia. As senhoras mais importantes, chamavam na muitas vezes para que os mais pequenos tivessem bom comportamento á hora do jantar. - Vou chamar a senhora do mar, Manelito, come a sopa! E lá aparecia a imagem da senhora do mar, em passo rápido, segurando a tesoura, assustando os mais inocentes, tendo sempre ela a última e única palavra em relação aos catraios. - Ai, que te corto o tesouro mais precioso, Manelito! Mafarrico, falso como os dias de nevoeiro! – Dizia a senhora do mar, num tom importante, como se conhecesse a criança, mesmo antes de ter nascido! Um dia, a senhora do mar deixou de aparecer ao jantar, deixou de aparecer ao almoço, deixou de aparecer, por completo! - Onde estará a senhora!? Indagavam se as senhoras da aldeia! A senhora do mar tinha ido com a tempestade, levou os tesouros que tinha conquistado e tomou a decisão de partir. Deixou lhes a tesoura, a mesma com que cortava as maleitas do corpo, a tesoura com que podava as suas roseiras, onde cortava os espinhos e deixava em cada casa, uma rosa encantada! https://www.youtube.com/watch?v=pXq_8tjl_Zs

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Cronica anarquista

O mundo está um descalabro, cada vez assisto mais á medição de consciencias, onde tudo é medido ao milimetro. Oh rica, essa feijoada é vegetariana!? É querida, aliás, o feijão é catarino! Oh rica, mas foi demolhado como manda a lei!? Epah, vão sa foder! Como se costuma dizer, é nestas alturas que a merda vem ao de cima como em Carcavelos. Medem se as pilinhas, medem se as ideologias, mede se tudo, menos o mais importante, o respeito pelo próximo, na medida em que o mesmo me respeita. Vim da Palestina, a semana passada, continua tudo na mesma, tive de ser escoltada e vim num avião militar. Conheci o sr Mahamoud Abbas e a Dra Vandana Shiva, dois grandes nomes do activismo contemporaneo. Perdi a conta á quantidade de lágrimas que caiam das caras daquelas crianças a verem o seu pais violado e trucidado por um assassino sem escrupulos. Disseram me que corria perigo de vida, afinal era só um gozão! Mandei o cagar e apontaram me uma arma á cabeça, pela segunda vez, não dispararam e disseram me para seguir. Reteram me o passaporte e fiquei retida no aeroporto durante mais de 12 horas enquanto examinavam a minha origem! Que faz uma portuguesa em terras de arabes!? Tenho familia em Telavive! Mas não estamos em Telavive, senhora, que tem mais a declarar!?! Não tenho, podem chamar o meu pai, que trabalha na embaixada de Israel em Portugal, ele pode vos dar toda a informação necessária! Depois de vários telefonemas, apareceu o seu representante, acompanhado por um soldado! Lamento, senhora, mas temos de deporta la, não pode estar em territorio de guerra! Tentar atravessar um checkpoint em Ramala com um passaporte europeu sem qualquer justificação, pode dar prisão! A faixa de Gaza continua a ser o local mais perigoso do mundo! Fiz amigos, mais do que amigos, fiz irmãos de luta! Não tenho paciência para meninos! Viva Palestina, viva a minha querida amiga Tamimi, que tal como eu tivemos de correr para salvar a pele de alguns que de queimados e cheios de medo, ficam sem casa. Nablus continua a ferro e fogo, todos os dias revivo fotografias de pessoas que infelizmente, hoje já cá não estão. São tratados como lixo, negam lhes os medicamentos, morrem e são violadas crianças pelo facto de serem considerados ciganos numa terra que sempre lhes a pertenceu! A luta pela resistencia palestiniana irá continuar, sempre, até á ultima gota de sangue, até ao ultimo burguês enforcado com as tripas do ultimo banqueiro. Boas vindas a todos os emigrantes na terra que me viu nascer! Viva! E sem medos, porque o medo é apenas uma desculpa de merda para não se fazer aquilo que a alma tanto liberta! A sede e a fome da liberdade será sempre o nosso lema. Da mulher que corre com os lobos, os mesmos que atacam os que me tentam derrotar e os que nos confortam e nos limpam as lágrimas quando sentem a nossa fraqueza. Y