Kaos não existe, mas Anarquia sim! Se os deuses fossem humanos,
eu não queria ser nenhum! Se as palavras não fazem sentido, as lágrimas não vão
alterar nada! Se a vontade de ser não for suficiente, não existem casos concretos,
se a mentira surge onde não tinha razão de ser, nada mais é preciso para que a
chuva caia! E quem me dera que chovesse a potes num dia de sol e que o arco
iris nunca mais voltasse, quem me dera que a árvore deixasse apodrecer as raízes
para que nunca mais vivesse, quem me dera que o cosmo caísse para que eu nunca
mais tivesse vontade de olhar as estrelas! Se o mundo fosse quadrado, eu queria
ser uma roda para rodar até ao infinito que não tem razão! Sentir que as coisas
mudam só porque se quer nem sempre é o suficiente, as cargas de alucinação são
maiores do que a ilusão de se querer mudar o que nunca se teve! Amorfos casos
de indecisão fazem com que as ideias nunca sejam reais, não tenho razão de ser,
não posso ter mais do que não há, a vida vai continuar sem a saga do ópio, sou
uma gota que inunda o inóspito mundo irreal que me rodeia, sou louca! Estou louca,
louca de desejo de saber que um dia o azeite nunca foi puro e por nunca ter
sido puro a sensação de vazio invade o sabor das tuas mãos.
Saber que o único ser que existe não é precioso ao ponto de
se dar uma volta sobre a minha cintura, o cheiro do jardim, as flores que eu
nunca pensei que nascessem, nasceram.
Existe o mito, existe a forma de saber que afinal os mitos
são apenas ilusões dos medos dos humanos. Não quero ser humana, não desejo as
flores que afinal nasceram, arranco as aos pedaços do meu íntimo devagar.
Vou rir de vontade de nunca ter tido uma forma de ser que
não existe, vou ser uma fórmula química, vou ter uma ideia! Vou ser a ideia! A
ideia de conquistar o que está perdido! O ser infinito, o que não há, o que não
tenho!
Vou chorar de saber que as pedras que calco quando regresso
ao lugar de repouso nunca vão chorar como eu! É mau admitir que se quer, é mau
admitir que um dia a casa interior que se construiu era feita de palha, que
inflama ao mais surto suspiro, suspiro que envolve as sequências matemáticas
que eu nunca soube resolver. Não lamento um único dizer verdadeiro, não lamento
saber que o etéreo nunca se tornou real, sonho com artes superiores, sonho com
demolidoras investidas que me sugam o sangue de cada vez que me abro para que
te escorra por entre os dedos o azul do céu! Como os teus olhos, como a tua
voz, como a tua sede de vencer, como a tua fome de querer ser mais, de nunca
tentar por um só momento o declínio da insatisfação aterrorizante com que me
esforço por demonstrar que existo! Porque eu existo, existo noutro planeta,
existo para separar o que é inseparável.
Quando se escreve, realiza-se e eu sou tal como tu, Kaos, irrealizável
num plano paralelo do insustentável sentido de amar.
Sem comentários:
Enviar um comentário