quarta-feira, 18 de maio de 2016

Diário em carbono líquido mês cinco terceiro dia

Viagem a outro lado do rio.


Amanheceu um dia cinzento, mas de noite, a alma voou em direção à outra parte. O fio fino de prata que a segura à terra é a fortaleza que a faz continuar amarrada à sua existência. Chega a ser controverso, quando sempre foi a matéria a principal razão, desta forma o corpo deu lugar a um pequeno respiro que no mesmo sentido, rapidamente ocupou a essência do viver. A alma voou até ao limite do horizonte, gélido, cinzento como a manhã de alvorada, fedorento espaço, húmido. Ouve se alguém ao fundo, gemidos de dor, desolação. Sente se a transpiração, o nauseabundo cheiro a fezes, o sabor da implacavel morte. Deambulando entre diferentes estados de temperatura, a alma, que vendo voando o abismo é atraída pelas chamas, sente a transparência das labaredas e sem conseguir resistir, entrou, as paredes manchadas de sangue, celas onde apodrecem restos de matéria, o desesperante cheiro a urina onde a tortura se ouve a cada passo que dá, a cada muralha que vai passand há quem lhe lance pedidos de salvação, a alma não consegue ver o sofrimento, está de passagem, mas sente que o nefasto sítio a faz cada vez mais penetrar nas profundezas do abismo. É como se tivesse sido atraída pela luz do fogo, o libertador. Do outro lado, cortorcem se serpentes devoradoras de homens, as mesmas que deixam a alma passar, os gritos de desespero são constantes, mesmo que se sinta que apenas pairamos, é demolidor o buraco onde se comprime o restolho.




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