quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Erínia

Erínia era mortal!

Passava os dias dormindo em campas de deuses!
Deambulava pelos cemitérios envolta em xailes negros e derramava essência de ambar pelo chão, dançava nua ao luar e quando chegava o sol as suas serpentes estendiam-se até à cintura, pelo seu corpo branco!
Queimava lavanda a fim de acalmar quem lhe concedeu a troca de virtude!
Os seus olhos, cobertos agora de sangue, onde outrora eram brancos e sem luz tinham descoberto a Terra!
E os Homens Deuses, segundo ela!

Recordava-se dos tempos em que afligia quem a desafiasse e quem lhe fosse parar ás mãos, era cruel!
Era fria como gelo e louca que nem um vulcão em erupção, tinha renunciado ao seu destino de clausura intemporal e pediu para que lhe retirassem a imortalidade!
Escrevia nos livros dos deuses, mas até esse dom pediu para que lhe fosse retirado! O poder da Visão renunciado! Queria viver a vida na Terra! Queria viver o Amor dos Homens Vivos! Quando afinal se deu conta que nem o Amor, nem Homens Deuses existiam naquele planeta...
Arrependeu-se!


A sua força proveniente do seu próprio sofrimento pedia consequentemente que viessem buscá-la, não suportava mais a maldição a que foi sujeita! Podia morrer a qualquer momento que outra serpente lhe arrancasse um fio de cabelo! Uma serpente verdadeira!
Era ela a serpente verdadeira!

Deus ter se ia ido em tempos e toda a sua vida era escondida em jazigos e sepulturas.
Erínia deu-se conta que afinal os Homens Deuses estavam mortos e das casas mortuárias o seu berço energético! 
Por vezes saía, entrava nos covis e ninhos de viboras, mas nenhuma se chegava perto, pois as que ostentava eram verdadeiramente naturais! As suas serpentes, as suas inimigas! As suas serpentes, as suas amigas!

Olhava os céus todos os dias esperando que a chuva um dia a afogasse!
Cheirava as flores murchas e logo se levantavam como se estivessem nascido naquele momento, Erínia fazia reviver os elementos e os Homens, mas aquele deus era lhe proibido!

Não se importava, sabia que o destino lhe seria fatal, era agora uma escrava do tempo! A condição a que se tinha proposto! 
A sua sorte, uma inutilidade, a vida, um inferno, o mundo, uma prisão! A sua eterna juventude, desperdiçada! As suas asas, negras de luz, cortadas!

Deram-lhe uma Vida Mortal!







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