terça-feira, 20 de setembro de 2016

Ai os amores impossiveis!

Ai, que isto ferve e não sei como apagar o histórico do meu computador cerebral!
Ai, que eu não ando a brincar e de longe querer magoar seja quem for! 
Ai, que eu pareço o Mário Viegas!



Ai, ai ai! 

Ai que eu não sei o que me aconteceu ás três da manhã na madrugada de Domingo, vinha eu a conduzir em plena avenida em direcção ao Campo Grande! Limpinha e cem por cento cool! 
Ai que isto mexeu tudo cá dentro! 
Ai que aquilo foi intenso e eu não percebo nada de cenas tântricas.

Ai que eu estou a ficar maluquinha! Já nem sei no que acreditar! 
Ai que eu tenho tendência para os amores impossiveis! Já não bastava o cigano ter se prometido e ter feito a Grande Viagem para agora ter de me aguentar sozinha! 

Ai! Isto não pode estar a acontecer!
Ai! Ai! Que eu não sei o que fazer... 

É ridiculo! O amor é ridiculo! Já o Pessoa tal como eu, escrevia cartas de amor e agarradíssimo ao ópio, pois! 

Ipsis Verbis


Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

Álvaro de Campos, 21/10/1935


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