quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Sandra

Sandra foi violada.
Sandra ainda hoje se pergunta a razão pela qual se recorda do fatídico dia em que o seu padrasto a cercou e fez dela o que quis.
A Sandra é minha amiga, veio cá a casa pedir me ajuda, não sabia o que fazer.
Levei a ao colo ensanguentada e pedi para que não me acontecesse o mesmo.
Sandra está internada em estado crítico, vai precisar de ajuda para superar o trauma.
Sandra é bombeira, até ao dia em que tudo aconteceu, era ela que salvava a vida a milhares de vítimas de violência doméstica.
Tem um ar sereno, mas naquele dia eu vi uma mulher despojada de todas as forças.
Tal como a Sandra muitas mulheres continuam a ser vítimas do assédio como se fossemos mercadoria.
Sandra disse me que se matava mas consigo levava a consciência de se vingar do seu carrasco.
Sandra é mãe, pediu me pa tomar conta da sua filha caso levasse a sua ideia à frente.
Sandra, a forte mulher que eu admiro pela força e pelo amor que lhe transparece nos olhos.
Não estamos a salvo, disse me, ninguém está a salvo.
É como um cancro que nos consome a memoria e o desespero que nos incapacita de fazermos a nossa vida.
Sandra entrou nos cuidados intensivos, Raquel, sua filha adorada  gritava para que os médicos a salvem.
Sandra é uma lutadora, não pertence a nada nem a ninguém, pertence a ela própria.
Sandra foi mais uma das mulheres que acreditava no amor e que de um momento para o outro, todos os seus sonhos se desvaneceram.
Sandra vai recuperar, pois quem deu de si aos outros, rapidamente se recupera.
Disse me que nao queria choros nem flores nem nenhum acto de misericórdia.
Limpei lhe as lágrimas e juntas sentimos o monstro que a violou.
Não ficará impune.
Disse lhe que vou estar sempre ao seu lado.
Somos o exemplo desta sociedade retrógrada, machista, imperialista.
Somos todos culpados.


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