domingo, 21 de outubro de 2012

Esgoto pútrido!

Hoje não quero pensar em nada! Não consigo sequer imaginar que estou a sofrer um esgotamento!

Devia tratar-me com mais lucidez, chamem-lhe o que quiserem mas para mim, os demónios insistem em querer controlar a minha mente! Espero um dia acordar e dizer bom dia com um sorriso, mas até isso desapareceu!
Quero desaparecer! Quero voltar a ser o que era e não consigo! Devia ocupar-me, não me sais da cabeça!
A pressão que tenho aqui dentro surge de cada vez que me quero concentrar em algo novo!
Não quero ficar doente, quero viver!
É como se vivesses aqui dentro!
Já pensei em partir todos os espelhos cá de casa, num acto de fúria! Não consigo controlar esta raiva, este ódio, esta merda!
Por muito mais que sinta vontade, o meu coração continua a trair-me!
Odeio esta sensação de frustação, sou uma pessoa real, com medo e por vezes parece que me chamas!
Pressão mental?! Essa merda existe?! Pensava que isso fosse apenas paranóia da minha cabeça, mas disseram-me que sim, quando as forças são iguais, isso pode acontecer, não sei!

Quem és?
Estou louca?!
Não me consigo conhecer, interrogo-me todos os dias e hoje cansei-me de pensar, estou farta de pensar, quero agir! Não quero ir provocar o sistema, quero deitar lhe o fogo!

Quero sentir mais adrenalina, sou viciada em adrenalina!
Quando digo o que sinto, esta pressão...desaparece!

E só para que conste, que jamais, alguém tente mudar aquilo em que acredito!











sábado, 20 de outubro de 2012

Corvo



Coloquei uma rosa vermelha na tua gaveta.

Custou encontrá-la, até nisso sei que nos queriam afastar!
Sinto que as tuas irmãs já viram e imaginam quem foi!
Um dia que for ao bairro, se calhar encontrá-las, talvez lhe conte a nossa história, sei que hoje a cultura cigana já não é a mesma e que decerto vão compreender.
Fizeste de mim a mulher anarquista que sou!

Deixaste-me cedo de mais! Tinhamos tanto para aprender um com o outro!
Sabes que eu sou uma sonhadora e também sabes que um dia nos havemos de ver, sempre acreditei que a morte não era a ultima fase.
Disseste que me vinhas buscar quando partisse, que te desse a minha mão esquerda e que juntos entraríamos pelos portões da eternidade.
A mágoa transforma-se em lágrimas desde que descobri que te tinham prometido e por isso o destino não deixou que ficássemos juntos.
Era uma desgraça para a tua família saberem que o cigano tinha encontrado a sua alma gémea fora da sua tribo.

Éramos tão novos e tínhamos tantos planos escondidos.
Sei que prometi não ter mais ninguém na minha vida.

Tínhamos um acordo, nunca nos tocaríamos, éramos puros e inocentes!

Falhei a minha promessa e por isso estou a pagar o facto de não me ter convertido, mas os teus irmãos também não o fizeram.

Fomos amaldiçoados! Éramos rebeldes!
Imaginas como seria a nossa vida hoje?! Tínhamos fugido!

No dia em que foste nadar a minha mãe não me deixou ir e tu já não voltaste.
Não me devia agarrar ao passado, mas tu fazes parte dele, do meu presente, sempre fizeste e tenho a certeza que irás fazer parte do meu futuro. Chamem-me louca, eu não quero saber, sei que me fazes falta.

Foste tu que me ensinaste a dançar, ainda hoje te sinto em mim quando ouço musica, as tuas mãos nas minhas ancas, é como se a serpente subisse por mim acima e não me deixasse parar. A serpente bicéfala que um dia encontrámos e que irei tatuar em tua memória.

És a minha força, todos os dias, porque te sinto aqui dentro.

Não era preciso o pacto de sangue, ambos sentíamos que nos pertencíamos, embora o tivéssemos feito.
Tás aqui?! Ou é só a minha mente desesperada por tudo o que me aconteceu nos últimos tempos?
Não fui sincera, fui cigana!
Espanha chama-me, as nossas raízes, ainda ontem senti algo dizer-me que este país é pequeno demais para o que quero fazer. Não sei! Adoro o flamenco, as saias, a sensualidade, as castanholas, o riso das crianças, da criança que eu quis ter e que não sei cuidar.
Odeio-me, sabes, odeio-me muitas vezes! É a escrever que me sinto bem, por mim escrevia todos os dias, mas não posso, iria desvendar todos os meus segredos e há muitos que guardo para mim, tu és um deles.

Vou voltar a dançar, a dançar como dançava para ti, a deusa da dança! Sempre que dançar, é para ti que o farei, seja o que for, essa foi a única promessa que eu até agora consegui cumprir.

Vou  tentar fazer o que me pediste, colocar uma pedra no meu coração e canalizar o amor apenas para quem o merece. O verdadeiro amor. Pensei que o tinha encontrado, mas enganei-me!

Odiávamos os tradicionalismos e os conservadorismos, sempre soube que entre nós a violência não seria uma constante, fosse de que maneira fosse.

Quero mais é que se lixe o que pensem, o que digam, enlouqueci, decerto! Perdi o medo da morte e perdi o medo de dizer o que penso!

Os corvos crucitam lá fora, os nossos irmãos! O símbolo da resistência! Da resistência do nosso amor que ia contra tudo e contra todos!

Consegues voltar?! Sei que não! Nunca te vou conseguir substituir e por isso tal como a culpa, morrerei solteira, porque viúva nunca cheguei a ser.





















quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Fénix





Fecho os olhos e dou um passo em frente, a floresta densa e perigosa faz com que eu sinta o perigo eminente de cair, mas não caio, algo me segura à terra.
O ciclo fechou-se ao ter estado contigo, eu própria sinto que que daqui para a frente nada vai ser como dantes.
Sei que vidas, passarão muitas por mim, mas tu colocaste tudo em causa, por minha culpa!
Uma mulher integra e pouco confiante em si mesma, apesar dos seus devaneios, tornou-se um cadáver e tal como os abutres, alguém a devorou.
Não quero mais sentir esta pressão aqui dentro, resolvi sem saber o meu conflito interior, remissão?! Uma guerreira nunca se rende! Eu não me rendo! Compreendo!
Aos poucos e poucos vou tentando construir o que foi totalmente devastado por um ciclone.
Terramotos assolam a minha forma de ser.
É impressionante como a mente humana funciona, eu que sou toda dos esoterismos e psicografismos, nunca pensei que vasculhar o meu intimo fosse tão desgastante. Mexer com energias não é para todos, garanto!
É tarde?! Não sei, não quero saber, o tempo o dirá!
"Eras tu que dormias com o  inimigo", disse-me o guia! "Tienes solution?! Ama-te a ti mesmo, porque o que passou, passou! Quem te deu a árvore, também te vai dar o fruto!" Deixou-me este enigma para desvendar,
É verdade, agarrei-me ao passado, estupidamente!
Ando a redescobrir-me!
A verdade vem sempre ao de cima!
Nunca fui mulher de me deixar levar assim tão facilmente, havia de chegar o dia, o eterno retorno!
Sinto-me triste e tu também deves estar! Estamos ambos! Eu sinto-o e tu sabes! E no entanto temos ganas de nos sentir novamente! Seria tudo diferente!
Volta! Não já, mas volta um dia que te sentires preparado para falares do que já passou se quiseres, talvez nessa altura eu já esteja mais forte, não me vou voltar a mentir a mim própria, já menti e perdi a pessoa que mais amei na vida e tu sentes o mesmo! Não é o sexo que nos move, sexo podes fazer com quem quiseres, é a energia, mas eu não soube manejá-la correctamente, misturei tudo, mas estou a aprender...a voltar a ser a Ana que era, cheia de vida, alegre, inteligente, amorosa, prática, despreocupada e corajosa, essa coragem que me faltou ao dizer-te que um dia te odiei e amei com a mesma intensidade...

Estou a tentar renascer...









domingo, 14 de outubro de 2012

Pandora Box

Kaori e Frida partilhavam a mesma ideologia, no entanto não se conheciam, ambos viviam nos seus mundos, se um dia se encontrassem numa situação de conflito, como extremistas que são, iriam destruir-se, pois divergiam em algumas vertentes, e um dia isso aconteceu! Frida num momento de pura estupidez provocatória introduziu-se no seio da comunidade de Kaori e enfrentaram-se.


Por ironia, Kaori e Frida conhecem-se como se nunca tivessem falado antes,  fascinaram-se um pelo outro e um dia entram em conflito quando conversam sobre anarquismo. Frida desvaloriza, as ideias são para ser discutidas, no entanto aquele radicalismo em algumas questões deixam na a pensar sobre o que conversaram.

Geram um sentimento de pertença um com o outro, vivem intensamente.


Um dia, meramente por acaso através de uma foto antiga, Frida reconhece Kaori, o mesmo que desceu as escadas da casa encantada e sentiu algo, foi como se o ódio da altura tivesse retornado, mas Frida já se tinha entregue, assume inconscientemente uma posição de rivalidade, mentiras constantes, deixa de ser ela, quer ser mais, como se quisesse mostrar a sua Verdade, a Verdade que não existe.

Torna-se autista, competitiva sem razão, receosa de lhe contar o episódio passado, sabe perfeitamente que isso o iria enfurecer e prefere viver uma mentira.

Age irracionalmente, um misto de raiva, ódio, amor, deslumbre, ciume, tesão faz com que o queira ter e ataca em todas as frentes.

Frida destruiu o que tinha.

Kaori deixou de acreditar nela, sente-se ameaçado e não percebe porquê, nunca percebeu, teria percebido se Frida lhe tivesse dito o que na realidade a preocupava, mas como um cego de nascença, age por instinto e não estava errado. O conflito instala-se, a pressão, o medo, a desconfiança mútua.


Frida teve sempre muitos problemas em falar de si, esconde-se no seu interior como se não gostasse do mundo que a rodeia.
Fala por enigmas, enclausura-se e começa a tentar descobrir-se a si própria, procurou ajuda em si mesma, interroga-se e assume o que fez, atitudes irracionais fortemente influenciadas pelo sentimento de achar mais uma vez não ser aceite pelas suas opiniões.

Depois de muito regredir no seu intimo foi isto que veio ao de cima.

Se por acaso se encontrarem, esperemos que ela finalmente consiga mostrar quem é, na verdade.


Pandora Box









quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Excertos... by Seth

Não tenho por hábito colocar textos que não sejam meus, no entanto este deu me um arrepio quando o li, não sei porquê, desconheço pessoalmente o seu criador mas suponho ser um ser que se mistura muitas vezes com o etéreo. Existem e acontecem situações em que muitas vezes eu duvido se realmente o acaso existe e se faz com que reflictamos sobre a nossa condição humana. Obrigada, Seth pela tua maravilhosa escrita!





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Excertos ...

Sou eu mesmo, trevas
Nesses dias de Sol quente ...
As mágoas que carregas,
Sou quem te impõe inclemente ...

Sou eu mesmo, luxúria
Sendo a perdição ...
Querendo apenas penúria,
Todo eu sou tesão ...

Sou eu mesmo, estaca
Que crava no teu peito ...
Com martelo esmaga,
Onde todo me deleito ...

Sou eu mesmo, perfídia
Aumento a dôr alegremente ..
Como qualquer insígnia,
Assim mato lentamente ...

Sou eu mesmo, atroz
Que tua garganta aperta ...
Calando-te a voz,
Silencio que me desperta ...

Sou eu mesmo, pancada
Todo eu, sou dôr imensa ...
Tal como uma trovoada,
Sou a descarga intensa ...

Sou eu mesmo, sangue
Em noites de luas cheias ...
O corpo morto, exangue
Onde encho minhas veias ...

Sou eu mesmo, perigoso
Qual réptil no refúgio ...
Sou do Mal vigoroso,
Sou o caçador bravio ...

Sou eu mesmo, tormento
Banho-me no corte de cutelo ...
Bebendo sem impedimento,
Sangue quente, do flagelo ...

Sou eu mesmo, assim
Coisa ruim, desgastante ...
Do principio ao fim,
Coisa ruim torturante ...

Sou eu mesmo, que vejo
Sentindo esse terror ...
Desejando com ensejo,
Apenas provocar a dôr ...

Sou eu mesmo, pútrido
Qual pedaço largado ...
Sem qualquer prurido,
Pedaço de ti entranhado ..

Sou eu mesmo, ódio
Teu profundo rancôr ...
Sou medalha de pódio,
Pois provoco a dôr ..

Sou eu mesmo, que coloco
Um inferno permanente ...
E então eu convoco,
Essa reacção demente ...

Sou eu mesmo, fraco
Que me lanço no abismo ...
Meus demónios trato,
Com desdém e egoísmo ...

Sou eu mesmo, engano
Todo eu me conheço ...
Sou do mais profano,
Esta parte reconheço ...

Sou eu mesmo, criatura
Menos, do que banal ...
Não existe em mim a cura,
Todo eu, sou o Mal ...

By: Seth

Vazio!

Numa das minha grandes viagens, fui parar a um sitio inóspito, quase desertico, lembro-me que estava vestida de peles e sobre a minha cabeça um amontoado de pedras preciosas finamente conjugadas com tiras de seda volateis á brisa que se fazia sentir. Munia-me apenas de uma funda, uma curiosidade morbida e a vontade de provocar o acampamento vizinho!
E fui!! Depois de investigar o local de saída por onde deveria passar após a minha invasão, dei um passo em frente e entrei...
Após ter visto a tenda do velho lider de luzes apagadas, dirigi-me para o celeiro da tribo, escondo-me entre o feno ofegante enquanto consigo cheirar a terra que acompanha dois mancebos, sabia o risco mas poder perceber quem eram era tudo o que eu mais queria.

Nisto a ave de rapina que me seguia dá o alerta e sou descoberta, sou levada, pensava eu ser devorada por entre setas envenenadas.
Tenho diante de mim, não o velho lider, mas o filho que na sua ausência doentia, delega ao facinora os seus poderes.
- Que fazes tu, por aqui?! Sabes que o celeiro que temos não pode ser conspurcado pela carne!? Coragem não falta á tua estultícia! Vens roubar?! Tens ar de que quem não precisa disso, as vestes que impões denunciam-te, vai, desaparece, antes que te aflija e te persiga com os meus demónios!

Corri!! Corri tanto que a floresta me parecia cada vez maior e mais assustadora!

Voltei á minha aldeia, cresci manejando a liberdade, aprendendo á minha custa e vivi...nunca mais me querendo lembrar daquele episódio na tribo vizinha, até que um dia...

O acaso acontece...Nazim e Ioan encontram-se longe das suas terras, sem saberem quem são, apaixonam-se...devoram-se...destroiem-se... e continuam ainda hoje a saborearem-se, não se assumem tal como a noite e o dia, a vergonha, o desprezo por parte de ambas as "familias" quando os conseguiram ver tão felizes. Ninguém tem coragem para admitir o que é obvio.
As damas antigas, paixões de batalhas, que surgem quando o herói é arrebatado por uma guerreira.

São de tribos diferentes.
Têm corações iguais.

O mundo velho dá tanta volta

Passaram-se quinze anos desde a ultima vez que estive frente a frente contigo, Ioan! E tu nunca soubeste quem eu era, nunca imaginaste a ferida a que irias propôr num futuro tão próximo.

Amaste-me naquele momento ou o destino fez o favor de ligar duas forças tão distintas?

sábado, 8 de setembro de 2012

Nostalgia



As tribos existem ou são as pessoas que as criam. acho que são as pessoas que as criam.
O ser humano tem sempre tendência a criar tudo, fogo...que seca, não sobra nada pra mim!

Eu só crio confusões na minha cabeça e um vazio incrivel aqui dentro quando tenho pensamentos deteriorados.

E eu até consigo ter uma cabeça limpa.

Tenho tanta pena de tanta coisa, paternalismos á parte em que dizem que é sentimento cristão, eu, na verdade, não acho nada, acho até um sentimento nobre, como a tolerância, a paciência, a compreenção, o amor verdadeiro.
Acho que não se ganha nada em sermos gananciosos, egoístas e por aí fora uns com os outros...ah, sim, mas não acreditem em nada disto, eu sou uma hipocríta, falsa, mentirosa e mais uma quantidade de coisas boas destas!!

Mas sim, continuando...

"O amor não existe, Mãe!" - disse eu há dias, "Isso não existe."

Deixei de acreditar nisso, realmente, já acreditava pouco, agora deixei de conseguir mesmo sentir o que é.
E não gosto nada, Gostava mais de saber que aquelas estrelas me continuariam a iluminar na noite mais feliz e incrivel, mesmo aquelas noites que já consideramos banais, aquela mudou a minha vida, a minha cabeça e o meu interior.
A areia fundia-se nos meus pés, ouvindo o tremor contínuo do urro devorador que consumiu o meu suor.

Quando soube que não era o meu destino, percebi que aquela tribo não era a minha, afinal de contas eu nem sei nadar e recordo me que naquela praia, ninguém tomou banho...


terça-feira, 10 de julho de 2012

Adora venceu...

Adora move-se entre o monte de cardos que envolvem o abismo das escarpas do precipicio e os espinhos aguçados roçam-se na sua pele como veludo.
Astuta, persegue Nestor, o medroso que se tenta esconder por entre o monte de picos procurando um refugio de modo a escapar á sua predadora
Ouve-se um trovão e o relampago que o precede ilumina a noite que deixa reluzir as escamas esverdeadas do reptil, o roedor esconde-se numa toca humida onde se ouvem gritos sofredores.
Encurralado e assustado, não tendo mais por onde fugir tenta chegar ao fundo dos tuneis escuros e sombrios.
Escava sofregamente a fim de poder ver a luz do luar e tentando chegar ao final do esconderijo ouvem-se com mais intensidade os loucos barulhos que o ensurdecem e que o poêm cada vez mais insano e desesperado por um lugar seguro.
Cá fora a serpente sorri e entra no mesmo buraco silenciosamente, enleia-se por entre os tuneis de caminhos dispersos e incógnitos.
Adora persegue-o, sibilando na esperança de poder localizar Nestor.
Este chega entretanto a uma das bifurcações e elege a sua esquerda para prosseguir, encontra-se cada vez mais surdo e a respiração começa a tornar-se fraca, quase sem forças para prosseguir, prefere ficar imovel, em silêncio a fim de poder discernir o barulho da esquiva serpente dos barulhos que assolam a toca onde se esgueirou. O coração bate depressa, a escuridão amedrontra-o.
Adora prossegue a sua saga em prol da presa, por sua vez confiante da sua força e perseverança continua o seu caminho, os gritos não a demovem e a sua astucia fá-la percorrer a toca em todas as direcções.
Parou entretanto a fim de tentar perceber através da sua fria visão a localização do mamifero, avança devagar sem um único som que a denuncie.
Nisto ao longe ouve-se um grito, é Sontura, o corvo que por entre as nuvens negras tem vindo a assistir a todo este enredo, voa em circulos, na expectativa de os localizar, mas a sua espera é em vão e volta a crucitar a fim de poder ter uma resposta de volta.
Dentro da toca, o silêncio reina por momentos como se de um sepulcro se tratasse, Nestor ouve as batidas do seu coração medroso e Adora finge que não se mexe, continuando a sua busca.
Os sons recomeçam e Nestor assustado, corre... corre tão rapidamente que não consegue perceber para que lado se dirige, os barulhos tornam-se cada vez mais altos, mais fortes, mais loucos, o desespero e o medo do falhanço percorrem o corpo de Nestor que não sabe o que fazer, Adora com ar triunfante deslumbra-se pois avista em sombras a sua presa e avança velozmente na sua captura.
O fim aproxima-se, Nestor está condenado, o encontro está próximo e sabe que irá morrer, entra rapidamente numa camara onde os sons são reais, cego como uma toupeira, assusta-se e volta pra trás na eminência atroz de se encontrar com Adora que percorre os corredores como uma seta pois o seu olfacto não a engana.
Sontura assiste a tudo, paciente e em circulos, sabe que de uma maneira ou de outra o fim há de chegar.
Nestor pára amendrontado e tenta seguir o seu instinto a fim de perceber o final que se lhe reserva, nem ele nem Adora se dão conta da observação eminente da ave que os rodeia e que com uma calma aparente se aproxima cada vez mais.
Nestor volta a correr depois de ter recuperado as forças, Adora como que fortalecida volta á carga e desta vez sem precedentes e sem querer saber, rapidamente o encurrala numa saída. Nestor apercebe-se do seu fim e dá-se como vencido, no local onde os gritos o ensurdecem e sem forças mais para se mexer, tende a deixar-se cair no que sente ser um abismo, Adora avança pois sabe que venceu e abre as mandibulas para sentir a carne fresca e tenra que vai engolir duma vez só.
Sem se dar conta, Adora é agora a presa da ave de rapina que esperava pacientemente por este momento. Nestor estupefacto e assurdido da sua sobrevivência dá-se conta que foi salvo pela benevolência de Sontura, pois a saída do tunel do abismo onde se escondeu era afinal o ninho das suas crias.

sábado, 30 de junho de 2012

Encruzilhada

Não percebo porque tenho as marcas na parede onde se instiga o facto de acreditar que existem universos paralelos e intemporais.

O teatro organiza-se num vão de escada, os subditos desviam o olhar como se de uma doença se tratasse.
Ninguém quer saber a razão pela qual o lixo se acumula nas veredas da Inquisição.

O carrasco assume-se como triunfante, mas na altura ela deixa cair a máscara e o fio da navalha deixou de cortar.

Deixaram os outros de rezar pela ofendida que afinal não cede um milimetro.

Quando chegam os lacaios para levar os restos, eleva-se uma fronteira de fumo e enxofre onde todos se agoniam com o cheiro a morte.

A fogueira acendeu-se mas a carne não arde. Ficam estupefactos ao verem que a madeira cedeu, mas o espirito, não.

Admiram-se de não conseguirem chegar ao topo da macabra vista e o odor fétido prolonga-se pela aldeia.

- Viram?! - gritam as viúvas!

Ao longe, avistam a Morte cheia de dúvidas em levar aquela escória que nem para acendalha serve.
Não arde, não queima, não vive. Não serve.

Estabelece-se um acordo visual entre os presentes e a maléfica sorte. Longe estão eles de perceber a vontade que Daskum tem de se unir á terra.

Nisto, o fogo deixa de arder e a terra treme, um misto de violência inóspita assola o que os rodeia, o cheiro a podre não termina antes de visualizarem um enorme buraco para onde o fogo se muda e se mistura com a essência terrena.

Que poder invencivel os une, mas que os separa.

Não desistem do conflito, descartam a possibilidade de nunca se unirem em prol de um mal menor, avistam-se abutres em torno da enorme cratera que exala fumo negro, os olhos cegam, as vozes deixaram de se ouvir, o único sentimento que se lhes vem á cabeça é a raiva, o unico poder que os move.

Os gritos ouvem-se ao longe, onde se avista uma multidão desesperada de fome. Como cavalos em batalha, destroem tudo o que encontram pela frente, nisto a terra treme de novo, um rodopio de labaredas surge e rodeia-os de modo a que não consigam sair.

Agonia, sofrimento, escárnio eloquente de quem nunca viu mais nada a não ser o desejo de destruir.
São eles os destruídos, os cegos que não conseguiram chegar ao topo de si próprios.

O sangue mancha a vingança frivola que domina o que não se sente, asco, nojo, desordem, caos.

A força não sai em retirada, não se rendem...nunca, rendiçao nunca.

Reina o desprezo não assumido, desvia-se o que se move, mas no fim dependem de si mesmos, não é possivel que se matem porque já se encontram mortos, no entanto vivem em função do que os alimenta. A maquina continua a sua matança.

Pestum retira-se nos seus aposentos, olha pela janela do seu interior e define que só com aquele pensamento fez da sua força a sua fraqueza, outrora como hoje, sabe que a esperança vence sempre desde que consiga voltar a lutar.

Envolvem-se em confronto novamente e desta vez o que os une, separa os fortemente.

Idealizam a ostentação de serem únicos o que os fortalece ainda mais na pertença um do outro, controlam se, dependem do infortunio e é com isso que alimentam o que os faz odiar o que os rodeia.

Abrem tunéis na memoria comum, apegam-se ao destino que os mantem firmes nas suas vidas.

A cratera continua aberta e desta vez o fogo arde em consequência da terra se ter movido novamente no sentido de o fazer deixar imolar se, crescem desejos de poder novamente, os braços fortes lamentam, mas o tronco levanta.

Crescem em direcção ao sol...sentem que se misturam, o cataclismo começa, a destruição é inevitável, o pó é agora vermelho, a arida paisagem avança, o choque de titãs...

Baixaram a guarda, não existe mais nada para combater e nisto o carrasco e a condenada sobrevivem ao perceberam que afinal o tumulto nem sequer era com eles.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

E mais que houvesse!


Putrefacta sensação de obscuratismo hoje me assolou a memória de elefante que tenho!

Olhei me no espelho e consegui finalmente sorrir apenas pra que só eu decifrasse o enigma.

O cinismo, a furia de pegar num martelo e partir o que me dá mais gozo fazer...sofrer! O reflexo da tua existência!

Porcos se almejam dentro da sua propria furda porque no meio de tanta chafurdice nem eles sabem mais o que comer...mas comem...comem porque não sabem procurar mais o que os faz ter fome.
Digo eu, que não sou ninguém...pérolas de diamante...

Grito surdo que se me elevou as fontes, lá fora neste momento, os cães uivam, não sei porquê... ontem o galo cantou era meia noite...estranho!

Fico sem saber se a planta que cheirei me fermentou o poder da sorte ou se o banho de videira fez com que decifrasse a audacia de enfrentar o que não vivo.

Soube me bem voltar á tona da água como se fosse uma sereia numa encruzilhada marinha.

A terra mexeu-se e eu fui a única que senti?

O perfume que exalo é diferente do habitual, o suor parece-me mais fixo.

O fogueira disse que não tinha mais nada para arder, mas as brasas mantêm-se vivas, será que se soprar ao de longe ele vem ao de cima?!

Música para os meus ouvidos, dançariamos a noite toda ao som dos tambores como dois loucos á espera que amanhecessem os teus sonhos! Estremeço de ouvir tocar e apetece-me gritar os anos que passaram em que te conheci, lembraste?! Quando passavas por mim na tua bicicleta sem mãos no guiador?! E quando eu fui contra ti e enleámos as rodas uma na outra?!

Elevou-se-me o bastão da fortuna, mas a carta escolhida foi a morte...morte negra em que o luto demora a tirar, corroi-me a alma de saber que a luz é verde...entrei...e vi...

Foste cedo, nunca te esqueci...

Cascatas de serpentes astutas e perigosas, como eu era...

Ah, como era bom poder dormir num leito de centopeias...contigo...

E mais que houvesse, que eu vencia-as!

Eu vi e senti...ela mordeu-me...deu-me a vida que tu levaste...ainda hoje ando a descobrir a tua matéria...tive alturas em que me quis juntar a ti na mesma gaveta...

E o fogo?! Recordas-te das fogueiras onde queimámos as roupas?


Volta...era só isso que eu queria.

"levantar-me-ia do meu trapeço só para te ver dançar"

E eu dancei...dancei tanto que depois...nos tocámos nas grutas de platina... onde corria a água limpida e cristalina.


Fechámos os olhos...e o cosmos cedeu!

sábado, 23 de junho de 2012

Morte única!



Escrevo porque não tenho nada para dizer, escrevo para sentir o desespero, escrevo para nunca mais voltar atrás no tempo, escrevo porque assim esqueço o que me corroi, escrevo para dizer que nunca disse a palavra que te assola o espirito com tanta vontade como agora, escrevo para dizer que o extremo não me deixa partir do inicio mas sim me faz regressar ao fim! Quando as carpideiras tirarem os véus, não vai restar nada da cova onde te quiseste enterrar. Escrevo porque não me faz sentido! Os magos deliciam-se com o horroroso cheiro a morte que exala do teu corpo! E no fim, temos o que sempre quisemos...

Kaos unificado!




Kaos não existe, mas Anarquia sim! Se os deuses fossem humanos, eu não queria ser nenhum! Se as palavras não fazem sentido, as lágrimas não vão alterar nada! Se a vontade de ser não for suficiente, não existem casos concretos, se a mentira surge onde não tinha razão de ser, nada mais é preciso para que a chuva caia! E quem me dera que chovesse a potes num dia de sol e que o arco iris nunca mais voltasse, quem me dera que a árvore deixasse apodrecer as raízes para que nunca mais vivesse, quem me dera que o cosmo caísse para que eu nunca mais tivesse vontade de olhar as estrelas! Se o mundo fosse quadrado, eu queria ser uma roda para rodar até ao infinito que não tem razão! Sentir que as coisas mudam só porque se quer nem sempre é o suficiente, as cargas de alucinação são maiores do que a ilusão de se querer mudar o que nunca se teve! Amorfos casos de indecisão fazem com que as ideias nunca sejam reais, não tenho razão de ser, não posso ter mais do que não há, a vida vai continuar sem a saga do ópio, sou uma gota que inunda o inóspito mundo irreal que me rodeia, sou louca! Estou louca, louca de desejo de saber que um dia o azeite nunca foi puro e por nunca ter sido puro a sensação de vazio invade o sabor das tuas mãos.
Saber que o único ser que existe não é precioso ao ponto de se dar uma volta sobre a minha cintura, o cheiro do jardim, as flores que eu nunca pensei que nascessem, nasceram.
Existe o mito, existe a forma de saber que afinal os mitos são apenas ilusões dos medos dos humanos. Não quero ser humana, não desejo as flores que afinal nasceram, arranco as aos pedaços do meu íntimo devagar.
Vou rir de vontade de nunca ter tido uma forma de ser que não existe, vou ser uma fórmula química, vou ter uma ideia! Vou ser a ideia! A ideia de conquistar o que está perdido! O ser infinito, o que não há, o que não tenho!
Vou chorar de saber que as pedras que calco quando regresso ao lugar de repouso nunca vão chorar como eu! É mau admitir que se quer, é mau admitir que um dia a casa interior que se construiu era feita de palha, que inflama ao mais surto suspiro, suspiro que envolve as sequências matemáticas que eu nunca soube resolver. Não lamento um único dizer verdadeiro, não lamento saber que o etéreo nunca se tornou real, sonho com artes superiores, sonho com demolidoras investidas que me sugam o sangue de cada vez que me abro para que te escorra por entre os dedos o azul do céu! Como os teus olhos, como a tua voz, como a tua sede de vencer, como a tua fome de querer ser mais, de nunca tentar por um só momento o declínio da insatisfação aterrorizante com que me esforço por demonstrar que existo! Porque eu existo, existo noutro planeta, existo para separar o que é inseparável.
Quando se escreve, realiza-se e eu sou tal como tu, Kaos, irrealizável num plano paralelo do insustentável sentido de amar.

domingo, 25 de março de 2012

Um único e só poema


   
 Sairia do meu canto
Nas profundezas do mar também nadam
Para teu espanto
Uma vontade enorme de emergir
Agarram-me os cabelos
Não me deixam sair
Não vou reagir
Deixo o mundo com vontade de nascer
Dentro do teu ser
Inocente

Viajo por mil milhas
E não encontro a saída
Das profundezas do fogo
Também sai a tristeza

Nunca assumida
Reparto o nada
Obstinada

Vendi me ao Demónio
Numa noite escura
Numa teia de entulhos

Num silencio profundo
Saí derrotada
Da sorte malvada

Do medo do Mundo
Sentir o infortúnio
De falhar a desgraça
É tudo ou é nada




                                           Heterónimo
                                           Betty Wave

quinta-feira, 8 de março de 2012

Mulheres! "Excerto do livro: Diário em Carbono Liquido" Agnes Gonzalez

Excerto do livro:  Diário em Carbono Liquido

Agnes Gonzalez


Sofia gostava de Ana!
Tiveram juntas durante um ano, a relação de ambas começou a ser desesperante para Sofia quando descobriu que Ana lhe tinha mentido ao dizer que Filipa nunca se tinha encontrado com ela e feito amor.
Ana, por sua vez continuou a traí-la desmesuradamente e Sofia sempre o soube.
No dia em que tudo acaba literalmente, Filipa falou com Sofia e disse-lhe cinicamente que afinal tudo não tinha passado de um mal entendido.

- Preciso dizer-te que nunca me quis deixar seduzir por Ana!
- Nunca te quiseste deixar seduzir, mas conseguiste fazer com que ela deixasse de me amar, agora que me deixou correu para os teus braços, quando me disse sempre que não, que nunca o tinha feito, que nunca tinha estado contigo, que nunca o tinha querido, que não passavas de um engodo, que estava desiludida, que tinhas sido uma pedra no sapato dela, que nunca se sentiu atraída por ti, agora és o amor da vida dela, mas sabes eu não me importo porque um dia havemos de nos encontrar e falar disto cara a cara.
Sabes que mais: Odeio-te! Odeio-te porque afinal quem me traiu foste tu, que a seduziste quando ela menos queria! Digo-te, a partir de agora, és tu a puta, vai te ficar bem o gozo, principalmente quando te pedir que te deites e que te ateie o fogo como na inquisição, vais ser a escumalha de quem ela tanto gosta, o trapo que ela tanto sujou, comes tanta porcaria, mas sabes ao fim ao cabo, dou-me por contente! Sabes porquê? Porque afinal de contas eu continuo a ser uma pessoa integra e tu um bandalho que só serve porque não tem mais ninguém! E dizes que precisas de ti sóbria! Sobriedade é coisa que a mim não falta, Ana é minha, será minha até à eternidade!
Filipa, vais sofrer, foste escarnecida em dias de bom humor, foste conotada como a que não tem fundo, como desperdício, mas os desperdícios também são precisos, para limpar a merda dos outros e é isso que vais ser, a descarga da sua indignação, da sua raiva descoberta, do seu ódio pelo que aconteceu. Vai-me dar gozo saber que és um deposito e que nas mãos dela vais ser um brinquedo que está ali quando não tem mais ninguém! Agora és tudo, outrora não foste nada, o que nos rimos quando falava de ti, o que eu me ri quando soube que tu eras quem ela menos quis, apesar de tudo! Agora, divide-se entre nós, mas tu nunca foste a melhor! Tu não és nada! Tu não foste nada, foste um desatino, uma confusão e agora és aquilo que ela quer que sejas: Lixo!
Lixo que não se recicla, lixo que não serve para mais nada a não ser para lhe limpar as lágrimas que deita em prol de um amor desconhecido.
Aproveita, porque daí até podes ter uma doença, uma doença incurável, uma depressão atroz, um sofrimento digno de dó! Deixa-te ir, estou a adorar que se encontrem mais vezes do que as que tiveram juntas, Filipa, tenho pena de ti, pois aproveitaste-te das fraquezas de Ana para agora vires vitoriosa para cima de mim! Quem ri por ultimo, ri melhor! Vou adorar imaginar a revolução que irá ser, a forma horrorosa de como te vai tratar quando estiver farta de te ouvir os lamentos, vou adorar saber que desta vez eu não serei a única vitima de Ana! Ana é cruel, aproxima-se porque precisa, depois repudia! Vou adorar quando os carinhos íntimos se tornarem violentos! Ah, o que eu me ri quando me disse que não usavas tinteiros para imprimir as folhas onde escreves as tuas memorias, o que eu me ri quando percebi que afinal eras um escape ás suas frustações!
Vai, Filipa, vai, vou adorar imaginar a quantidade de vezes que te quiseres matar porque ela não te respondeu.
Adoro o desprezo que te dá! Adoro a forma como te trata quando não estás com ela! Vou adorar saber que afinal tu és apenas um buraco onde se descarrega o ódio que ela sente por mim! Vai, Filipa, vai e fica com ela, talvez se dêem bem!
Conheço um bom cangalheiro de almas, onde tu podes encomendar o sermão do enterro, porque tu para ela, não estás viva, nem nunca tiveste, foste morta em combate e ressuscitas apenas para ser mais um saco de boxe!

Filipa morreu ao tentar dizer-lhe olá no dia da chegada a casa
Sofia encontrou Marta e conseguiu seguir em frente
Ana ficou doente e hoje não se consegue mexer porque os seus ossos são pó, depende de tudo e de todos.