domingo, 25 de março de 2012

Um único e só poema


   
 Sairia do meu canto
Nas profundezas do mar também nadam
Para teu espanto
Uma vontade enorme de emergir
Agarram-me os cabelos
Não me deixam sair
Não vou reagir
Deixo o mundo com vontade de nascer
Dentro do teu ser
Inocente

Viajo por mil milhas
E não encontro a saída
Das profundezas do fogo
Também sai a tristeza

Nunca assumida
Reparto o nada
Obstinada

Vendi me ao Demónio
Numa noite escura
Numa teia de entulhos

Num silencio profundo
Saí derrotada
Da sorte malvada

Do medo do Mundo
Sentir o infortúnio
De falhar a desgraça
É tudo ou é nada




                                           Heterónimo
                                           Betty Wave

quinta-feira, 8 de março de 2012

Mulheres! "Excerto do livro: Diário em Carbono Liquido" Agnes Gonzalez

Excerto do livro:  Diário em Carbono Liquido

Agnes Gonzalez


Sofia gostava de Ana!
Tiveram juntas durante um ano, a relação de ambas começou a ser desesperante para Sofia quando descobriu que Ana lhe tinha mentido ao dizer que Filipa nunca se tinha encontrado com ela e feito amor.
Ana, por sua vez continuou a traí-la desmesuradamente e Sofia sempre o soube.
No dia em que tudo acaba literalmente, Filipa falou com Sofia e disse-lhe cinicamente que afinal tudo não tinha passado de um mal entendido.

- Preciso dizer-te que nunca me quis deixar seduzir por Ana!
- Nunca te quiseste deixar seduzir, mas conseguiste fazer com que ela deixasse de me amar, agora que me deixou correu para os teus braços, quando me disse sempre que não, que nunca o tinha feito, que nunca tinha estado contigo, que nunca o tinha querido, que não passavas de um engodo, que estava desiludida, que tinhas sido uma pedra no sapato dela, que nunca se sentiu atraída por ti, agora és o amor da vida dela, mas sabes eu não me importo porque um dia havemos de nos encontrar e falar disto cara a cara.
Sabes que mais: Odeio-te! Odeio-te porque afinal quem me traiu foste tu, que a seduziste quando ela menos queria! Digo-te, a partir de agora, és tu a puta, vai te ficar bem o gozo, principalmente quando te pedir que te deites e que te ateie o fogo como na inquisição, vais ser a escumalha de quem ela tanto gosta, o trapo que ela tanto sujou, comes tanta porcaria, mas sabes ao fim ao cabo, dou-me por contente! Sabes porquê? Porque afinal de contas eu continuo a ser uma pessoa integra e tu um bandalho que só serve porque não tem mais ninguém! E dizes que precisas de ti sóbria! Sobriedade é coisa que a mim não falta, Ana é minha, será minha até à eternidade!
Filipa, vais sofrer, foste escarnecida em dias de bom humor, foste conotada como a que não tem fundo, como desperdício, mas os desperdícios também são precisos, para limpar a merda dos outros e é isso que vais ser, a descarga da sua indignação, da sua raiva descoberta, do seu ódio pelo que aconteceu. Vai-me dar gozo saber que és um deposito e que nas mãos dela vais ser um brinquedo que está ali quando não tem mais ninguém! Agora és tudo, outrora não foste nada, o que nos rimos quando falava de ti, o que eu me ri quando soube que tu eras quem ela menos quis, apesar de tudo! Agora, divide-se entre nós, mas tu nunca foste a melhor! Tu não és nada! Tu não foste nada, foste um desatino, uma confusão e agora és aquilo que ela quer que sejas: Lixo!
Lixo que não se recicla, lixo que não serve para mais nada a não ser para lhe limpar as lágrimas que deita em prol de um amor desconhecido.
Aproveita, porque daí até podes ter uma doença, uma doença incurável, uma depressão atroz, um sofrimento digno de dó! Deixa-te ir, estou a adorar que se encontrem mais vezes do que as que tiveram juntas, Filipa, tenho pena de ti, pois aproveitaste-te das fraquezas de Ana para agora vires vitoriosa para cima de mim! Quem ri por ultimo, ri melhor! Vou adorar imaginar a revolução que irá ser, a forma horrorosa de como te vai tratar quando estiver farta de te ouvir os lamentos, vou adorar saber que desta vez eu não serei a única vitima de Ana! Ana é cruel, aproxima-se porque precisa, depois repudia! Vou adorar quando os carinhos íntimos se tornarem violentos! Ah, o que eu me ri quando me disse que não usavas tinteiros para imprimir as folhas onde escreves as tuas memorias, o que eu me ri quando percebi que afinal eras um escape ás suas frustações!
Vai, Filipa, vai, vou adorar imaginar a quantidade de vezes que te quiseres matar porque ela não te respondeu.
Adoro o desprezo que te dá! Adoro a forma como te trata quando não estás com ela! Vou adorar saber que afinal tu és apenas um buraco onde se descarrega o ódio que ela sente por mim! Vai, Filipa, vai e fica com ela, talvez se dêem bem!
Conheço um bom cangalheiro de almas, onde tu podes encomendar o sermão do enterro, porque tu para ela, não estás viva, nem nunca tiveste, foste morta em combate e ressuscitas apenas para ser mais um saco de boxe!

Filipa morreu ao tentar dizer-lhe olá no dia da chegada a casa
Sofia encontrou Marta e conseguiu seguir em frente
Ana ficou doente e hoje não se consegue mexer porque os seus ossos são pó, depende de tudo e de todos.